Rio 2016: Procuradora da República diz que Nuzman é “elemento central” em compra de votos

Nuzman chega à Polícia Federal do Rio para prestar depoimento (Foto: Reuters)
Nuzman chega à Polícia Federal do Rio para prestar depoimento (Foto: Reuters)

A Polícia Federal apresentou detalhes da operação chamada de Unfair Play (Jogo Sujo), que investiga um possível esquema de corrupção de compra de votos da eleição da cidade sede da Olimpíada de 2016. A ação realizada por 70 policiais na manhã desta terça-feira cumpriu dois mandados de prisão e 11 de apreensão. Presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman é um dos acusados por envolvimento no esquema. O dirigente esteve na sede da Polícia Federal no Rio e presta depoimento no iníco da tarde, por volta das 14h30. Segundo a procuradora da república Fabiana Schneider, ele foi peça central no esquema de corrupção.

– Quem tinha condições para aproximar essas duas pontas era o COB, na pessoa do seu presidente Carlos Arthur Nuzman. É inegável que Nuzman atuou de forma bastante presente e expressiva no convencimento de pessoas a votarem pelo Rio de Janeiro. Isso é bastante público. Tanto Nuzman como outros membros do Comitê Olímpico do Brasil e agentes políticos viajaram para diversos países para tratar do assunto e tentar trazer a sede das Olimpíadas para o Rio de Janeiro. Nuzman se mostra como elemento central na ligação entre os pontos, entre empresários e representantes do Comitê Olímpico Internacional (COI). E é por conta desses indícios que foram impostas medidas de prisão ao senhor Carlos Nuzman, que fica impedido de deixar o país até que as investigações sejam finalizadas – disse Fabiana Schneider.

Eduardo El Hage (procurador da república), Fabiana Scheiner (procuradora da república), Frederico Skora (delegado da Polícia Federal), Jena-Yves Lourgouilloux (procurador nacional adjunto-financeiro da França), Renaud Van aRuymbeke (juiz investigador financeiro titular da França) e Anderson Bichara (delegado regional de combate ao crime organizado) e Antonio Baubrun (delegado da Polícia Federal) participaram da coletiva.

Como funcionava o esquema.
Como funcionava o esquema.

A operação da PF começou logo cedo, no Rio de Janeiro. Mandados foram cumpridos na casa de Carlos Arthur Nuzman e na sede do COB. Os bens dos três principais alvos da ação (Nuzman, Arthur Cesar de Menezes, conhecido como “Rei Arthur” (ex-dono da fornecedora do Estado chamada Facility) e Eliane Pereira Cavalcante (ex-sócia dele na empresa) foram bloqueados. Nuzman também já teve o seu passaporte apreendido e não pode sair do país. “Rei Arthur”, que não estaria no Brasil, não foi encontrado pela polícia e é tratado como foragido.

– Mais uma fase da operação Lava-Jato no Rio de Janeiro. Nesta fase chamada de Unfair Play (Jogo Sujo) foi feito o cumprimento de dois mandados de prisão, 11 de busca de apreensão cumpridos no Rio, Nova Iguaçu e Paris, todos expedidos pela 7ª vara criminal. Mobilizou 70 policiais, procuradores da república, magistrados franceses e auditores federais – disse Frederico Skora, delegado da Polícia Federal.

– Se trata de uma investigação de organização criminosa responsável por pagar propina. Os contratos seriam feitos por pagamento de dinheiro em espécie através de contratos fictícios e pagamentos de despesas pessoais. Haveria também transferencias bancárias feitas por doleiros – ressaltou Skora.

Segundo Eduardo El Hage, procurador da república, a operação tem dois eixos, um no Brasil e outro na França, que tem como ponto de contato a empresa comandada pelo chamado “Rei Arthur”, que faria a ponte entre Sérgio Cabral, então governador do Rio de Janeiro, e dirigentes africanos. Os contratos teriam envolvido bilhões de reais.

A investigação, que começou em novembro, contou com quebra de sigilos bancários e fiscais e acordos de delação mostraram que Cabral recebeu mais de 10 milhões de dólares (cerca de R$ 3,2 milhões) em um banco em Antigua e Barbuda através de um operador financeiro. Arthur Cesar também abriu uma conta no mesmo banco. As contas de Cabral eram manipuladas por um “laranja”. Alguns elementos chamaram atenção na investigação. Segundo a procuradoria da república, o primeiro fato é a “farra do guardanapo”, ali estavam presentes pessoas que já foram denunciadasmos e teriam se valido da Olimpíada para lucrar, como Fernando Cavendish e outras pessoas.

Entenda a operação

A Operação Unfair Play teve início na França durante investigações do Ministério Público Federal local. Os franceses investigavam os escândalos de doping russo envolvendo Federação de Atletismo Internacional (IAAF), quando se depararam com indícios de corrupção na escolha da sede do Rio para as Olimpíadas de 2016. Em março deste ano, uma reportagem do jornal francês “Le Monde” revelou uma investigação da polícia francesa que mostrava indícios de pagamentos de Arthur Soares para dois membros do COI – Lamine Diack e Franck Fredericks – antes da eleição que escolhou o Rio como sede dos Jogos de 2016.

As investigações encontraram indícios de que Nuzman teve participação direta nos atos de compra de votos de membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) para a eleição do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 e que teria sido o responsável por interligar corruptos e corruptores.

Fonte: Globo Esporte

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