Após ser alvo de nova fase da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, a BRF divulgou uma nota nesta segunda-feira (5) dizendo que “nenhuma das frentes de investigação da Polícia Federal diz respeito a algo que possa causar dano à saúde pública”.
A empresa é acusada de fraudes em laudos sobre presença da bactéria salmonela em alimentos. O ex-diretor-presidente Pedro Andrade Faria foi preso durante a manhã.
As investigações apontam fraude nos laudos emitidos por 4 fábricas da BRF para exportação a 12 países que exigem requisitos sanitários específicos de controle da bactéria do tipo salmonela spp.
Na nota divulgada nesta segunda-feira, a BRF esclarece que a presença de Salmonella Pullorum em lotes de frango na unidade de Carambeí não causa dano à saúde humana e foi notificada às autoridades.
A empresa informou ainda que foram analisados 46 mil animais do lote citado na acusação, e não foi encontrada presença da bactéria S.Pullorum. Porém, “ela foi identificada em matrizes e lotes de frango de corte no mesmo período em Carambeí”. A BRF diz que, então, notificou as autoridades responsáveis.
“Os resultados dessas análises foram devidamente notificados ao Serviço Veterinário Estadual e ao Serviço de Inspeção Federal, como determina a legislação. O ofício nº 016/16/Matrizes foi encaminhado no dia 18 de abril de 2016 ao Serviço Estadual. Outros 28 ofícios relacionados ao assunto foram encaminhados ao Serviço Federal.”
Sobre as acusações, que partiram de uma ex-funcionária da BRF, a empresa diz que “medidas técnicas e administrativas foram implementadas para aprimorar seus procedimentos internos”, como parte de um “processo contínuo dentro da governança da BRF”.
‘Entre essas medidas, umas das principais foi desvincular a hierarquia das unidades produtoras sobre os laboratórios, que passaram a responder diretamente à estrutura global de Qualidade”, informou a empresa.
Os investidores reagiram negativamente à operação, e as ações da BRF caíram quase 20% nesta terça, liderando as perdas do principal índice da bolsa brasileira e levando a empresa a perder quase R$ 5 bilhões em valor de mercado em um único dia.
Governo e produtores descartam riscos à saúde
Antes da divulgação da nota da BRF, o Ministério da Agricultura e a associação de produtores de frango já haviam afirmado que não há risco para a saúde do consumidor brasileiro de carne diante das irregularidades constatadas em nova fase da Operação Carne Fraca.
Segundo eles, é normal a presença da bactéria do tipo salmonela spp em carne de aves, mas ela é destruída quando a carne é submetida a altas temperaturas (frita ou cozida).
Em vídeo divulgado pela assessoria de imprensa, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que o regulamento brasileiro permite a presença de salmonela na carne de ave e que a operação de hoje investiga a adulteração de certificados de exportações para países que não permitem a presença de nenhum tipo da bactéria.
Colaboração com investigações
Mais cedo, a empresa já havia divulgado nota à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), informando que pretende colaborar com as investigações da Operação Carne Fraca “para esclarecimento dos fatos”.
O comunicado diz ainda que a empresa “está se inteirando dos detalhes da referida operação”, mas que está “inteiramente à disposição das autoridades”. A BRF é dona das marcas como Sadia e Perdigão.
“A Companhia segue as normas e regulamentos brasileiros e internacionais referentes à produção e comercialização de seus produtos, e há mais de 80 anos a BRF demonstra seus compromissos com a qualidade e segurança alimentar, os quais estão presentes em todas as suas operações no Brasil e no mundo”, diz o texto.
Os investidores reagiram negativamente à operação, e as ações da BRF caíram quase 20% nesta terça, liderando as perdas do principal índice da bolsa brasileira e levando a empresa a perder quase R$ 5 bilhões em valor de mercado em um único dia.
Empresa em crise
Após perder mais de R$ 360 milhões em razão da deflagração da Operação Carne Fraca no ano passado, a empresa fechou 2017 com prejuízo de mais de R$ 1 bilhão.
O balanço foi divulgado no final de fevereiro, quando, em nota, o diretor presidente global da empresa, José A. Drummond Jr., classificou o episódio da operação como “um dos momentos mais desafiadores da indústria de alimentos”.
No ano passado, em virtude das investigações, houve gastos e despesas extras com mídia e advogados, além de frete, armazenagem eperdas com devoluções de produtos. Além disso, vários países chegaram a suspender a importação de carne brasileira.
Segundo a empresa, alguns produtos que não puderam ser exportados por causa disso “estão sendo utilizados como matéria-prima na produção”.
Em 2016, a empresa já havia fechado no vermelho, com prejuízo de R$ 460 milhões. Em meio ao desempenho ruim pelo segundo ano consecutivo, a BRF enfrenta agora um impasse entre acionistas e membros do conselho da empresa.
Logo após a divulgação do resultado de 2017, sua maior acionista, a Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, pediu ao Conselho de Administração uma Assembleia Geral Extraordinária para decidir sobre a saída de todos os seus membros. A Previ, fundo dos funcionários do Banco do Brasil, também acionista, endossou o pedido.
Ao saber do pedido, Abilio Diniz, presidente do conselho, convocou uma reunião do colegiado da empresa, mas criticou a postura dos fundos de pensão.
Fonte: G1/SC