Pesquisadores projetam mil mortes em cidade do Sul do Brasil em 20 dias

O grupo de pesquisadores que previu as impiedosas 2ª e 3ª ondas de contágio do coronavírus, em Manaus (AM), emitiu um recado semelhante para o Sul do Brasil: um surto de 800 a 1.400 mortes está projetado para o município de Curitiba (PR).

Feira do Largo da Ordem, em Curitiba; alerta envolve uma projeção de mais de 1000 mortes em intervalo de 20 dias – Foto: Emerson Nogueira/Futura Press/Estadão Conteúdo/ND
Feira do Largo da Ordem, em Curitiba; alerta envolve uma projeção de mais de 1000 mortes em intervalo de 20 dias – Foto: Emerson Nogueira/Futura Press/Estadão Conteúdo/ND

O estudo é assinado pelo grupo de pesquisadores composto por especialistas das áreas da matemática, estatística, infectologia, imunologia e biologia, em modelo adotado baseado em dados de isolamento urbano e do avanço da imunização na cidade.

O alerta é o mesmo que soou em direção a região Norte do País, onde Manaus entrou em colapso de saúde e social, em um período que repercutiu mundialmente.

Na capital do Paraná o temor ganhou força a partir das medidas implantadas pelo próprio governo local. Com 101% de ocupação nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) exclusivas para tratamento da Covid-19, o que representa mais pacientes internados que a própria capacidade de atendimento, a prefeitura de Curitiba optou pela manutenção da bandeira laranja (risco moderado) para a renovação do decreto com regras de distanciamento.

O dado foi atualizado nesta terça-feira (15), conforme boletim diário divulgado pela prefeitura da capital paranaense. A taxa de ocupação dos 746 leitos de enfermaria SUS Covid-19 está em 92%.

As aulas na rede municipal de ensino foram retomadas na última segunda-feira (14) e devem ser mantidas. Outras atividades também estão com funcionamento sem maior rigor em decreto que, segundo apurado, deve ser publicado nesta quarta-feira (16).

A medida que se desenha faz parte de uma tentativa de reativar a economia da cidade com a retomada de atividades que, até a última semana, estavam sob a bandeira vermelha.

O detalhe é que, para os pesquisadores, esse afrouxamento pode resultar em um novo surto da doença. Conforme estimativa dos pesquisadores, esse movimento pode causar a morte de 800 a 1.000 pessoas até o dia 5 de julho, podendo se estender ao número de 1.400 se levar a régua em consideração desde o último dia 11 de junho.

Nota técnica encaminhada ao MP

Cientes do cenário que se arquiteta, os cientistas encaminharam uma Nota Técnica ao MPPR (Ministério Público do Paraná) e ao Executivo curitibano. Como não poderia ser diferente, o apontamento é de novas medidas mais restritivas para os próximos 21 dias.

Nota elaborada usa de um gráfico para elucidar a gravidade da situação – Foto: Reprodução/ND
Nota elaborada usa de um gráfico para elucidar a gravidade da situação – Foto: Reprodução/ND

“A taxa de óbitos diários para a segunda quinzena de junho deve alcançar uma média de 35 óbitos diários (máxima de até 50 óbitos) podendo acontecer uma queda no final de junho seguido de novo aumento abrupto que ultrapassará a média de 40 óbitos diários (máxima de 60 óbitos)”, elucida o documento.

A nota ainda lembra que a ocupação total dos leitos de UTIs, por si só, “é incompatível com a bandeira laranja”, e aponta que o mais adequado seria o município instituir “bandeira roxa” para evitar a circulação de 500 mil pessoas com o afrouxamento das medidas. A taxa de isolamento para frear as novas previsões, ainda segundo os pesquisadores, deveria estar entre 80% e 90%.

Revogação do retorno às aulas

O documento ainda pede que seja revogado o retorno das aulas na rede pública, que foi retomado na última segunda, apontado como forte foco para ampliação da infecção comunitária.

O relatório aponta que “tal retorno, neste momento, envolveria colocar no transporte público mais de 500 mil pessoas que estão em isolamento social, o que aceleraria a transmissão comunitário do município”.

A nota ainda cita o estudo publicado pela revista Science, que destaca que “é consenso, mesmo entre os pesquisadores que defendem o retorno escolar sem a vacinação, que tal retorno não deve ser realizado quando a localidade está em transmissão comunitária, o que é a situação de Curitiba”.

Isolamento salvou mais de 1.500 vidas

No início de março, o mesmo grupo de pesquisadores emitiu alertas para Curitiba e anunciou aumento das mortes diárias. Na época, diante de um cenário de colapso dos sistemas de saúde, com registros de mortes na fila da UTI, foi adotado isolamento social de 21 dias.

A redução na mobilidade urbana ficou entre 40-50%, atingindo picos esporádicos de 60%. Estima-se que mesmo não atingindo os níveis de isolamento social recomendados, o isolamento parcial foi  responsáveis por salvar mais de 1.500 vidas.

Distribuição das vacinas contra a Covid-19 no Aeroporto Bacacheri em Curitiba – Foto: Geraldo Bubniak/Divulgação/ND
Distribuição das vacinas contra a Covid-19 no Aeroporto Bacacheri em Curitiba – Foto: Geraldo Bubniak/Divulgação/ND

Um dos autores do estudo, o pesquisador Lucas Ferrante, afirma que em outros momentos o isolamento social salvou vidas em Curitiba. “Agora, mais uma vez, a responsabilidade de salvar estas vidas cabe aos gestores públicos e ao Ministério Público”, afirmou.

Mais números desta terça-feira em Curitiba

A Secretaria de Saúde de Curitiba registrou, nesta terça, 881 novos casos de Covid-19 e 24 óbitos de moradores da cidade infectados pelo novo coronavírus. Dezenove destes óbitos ocorreram nas últimas 48 horas.

As vítimas são 13 homens e onze mulheres, com idades entre 36 e 96 anos. Treze pessoas tinham menos de 60 anos. Até o momento foram contabilizadas 5.797 mortes na cidade provocadas pela doença neste período de pandemia.

Com os novos casos confirmados, 228.335 moradores de Curitiba testaram positivo para a Covid-19 desde o início da pandemia, dos quais 214.162 estão liberados do isolamento e sem sintomas da doença.

São 8.376 casos ativos na cidade, correspondentes ao número de pessoas com potencial de transmissão do vírus.

Fonte: ND+

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