Desespero, desesperança, delírio, desamparo, depressão, dependência química, sofrimento interminável e inescapável são sinais de alerta de suicídio. A pessoa não vê alternativa, a dor psíquica é insuportável e o suicídio aparece como única saída”, afirmou Alexandrina Meleiro, médica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), durante palestra proferida sexta-feira (1º), na sede do Ministério Público, na capital, marcando o inicio da campanha Setembro Amarelo, de prevenção à morte auto-infligida.
Segundo a especialista, é possível prevenir. “A prevenção não é tão difícil assim, o suicídio é um problema de saúde pública, então é preciso treinar educadores, bombeiros e policiais, incentivar as igrejas e capacitar equipes para abordar, manejar e encaminhar os doentes”, ensinou a psiquiatra, que ponderou o fenômeno da ambivalência. “O suicida deseja morrer e deseja viver, na brecha do desejo de viver a gente entra para regatá-lo, o tratamento começa pela brecha da vida”.
De acordo com os dados históricos, o suicídio prevalece entre homens. “É mais comum entre idosos, indígenas, em transição econômica, sofrendo de anedonia (perda de prazer) ou com orientação sexual diversa”, descreveu a psiquiatra, que destacou o crescimento entre os adolescentes e adultos jovens. “De 13 a 34 anos é a idade que mais está aumentando, de 2000 a 2012 aumentou 10,4%”.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa o oitavo lugar no ranking, com cerca de 12 mil suicídios por ano, média de 32,2 casos por dia. Em Santa Catarina a incidência é de 8,6 casos para cada 100 mil habitantes, sendo que em 2017 já foram registrados 337 suicídios, com destaque para Florianópolis com 54 e Blumenau com 30.
Drogas, um complicador
“As pessoas que consomem drogas têm mais adoecimento mental, elevando em 10 vezes o risco de suicídio comparado com a população em geral”, observou o psiquiatra Frederico Garcia, coordenador do Centro de Referência em Drogas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que ressaltou os efeitos nos adolescentes. “O cérebro deles está em construção e a droga acrescenta um elemento mágico, daí a chance maior de cometerem atos que ponham a vida em risco”.
“Não estamos prevenindo”
Para o coordenador do Centro de Referência em Drogas UFMG, o país está perdendo a guerra da prevenção. “Estamos prevenindo? Acho que não. A droga é um consumo forçado, não preciso fazer propaganda de arroz e feijão, mas para a droga preciso porque o consumo não é espontâneo, a pessoa não precisa da droga para viver, por isso a indústria precisa forçar”, explicou o especialista da UFMG.
Garcia criticou duramente o direcionamento da propaganda das cervejarias. “Se a gente olhar os dados, a exposição de jovens e adolescente é uma estratégia clara de propaganda da indústria, que conseguiu associar à droga ao prazer ou que para ter prazer com várias outras coisas, precisa ter droga”, argumentou Garcia, que advogou a proibição da propaganda de cerveja.
Fonte: Agência AL