
Um caso revoltante veio à tona em Lages, com a denúncia de que um padre teria abusado sexualmente de um menino de 13 anos. A família da vítima procurou a Rádio Clube para relatar o que classificaram como um “absurdo”, buscando justiça e alertando a comunidade.
Segundo o relato da mãe da criança, o padre, de quem a família era próxima e que inclusive havia batizado o filho e outros familiares, teria pedido ao garoto, para ajudá-lo em uma mudança na igreja. “Ele esteve aqui e pediu para ele, numa segunda-feira, ajudar. A gente deixou, porque a gente não quer imaginar que isso acontecesse”, contou a mãe, visivelmente abalada.
O padre buscou o menino na segunda-feira, por volta das 15h. Apesar do garoto manter contato com a mãe por mensagens, ele só voltou para casa às 22h. A princípio, a família não desconfiou, pois o padre justificava a demora, dizendo que o trabalho estava quase no fim e que outras mulheres também estavam ajudando.
No entanto, a mãe notou o adolescente estranho. A verdade veio à tona no dia seguinte, quando o menino desabafou com sua irmã. “Ele contou para a irmã dele primeiro, porque ele não queria contar para nós para ver a nossa reação. Ele ficou com medo, com vergonha e contou para a irmã dele”, explicou a mãe. Assim que soube, a família imediatamente acionou a polícia e registrou um boletim de ocorrência.
Boletim de ocorrência
A família registrou a denúncia em 16 de junho, um dia após o ocorrido.

O relato do abuso e as provas
A irmã da vítima, que também conversou com a reportagem, foi a primeira a quem o menino revelou o ocorrido.
“Ele estava bastante abalado. Quando o padre estava ali conversando com o pai e com a mãe, ele falou que precisava falar comigo. Eu falei, fala. Ele estava muito abalado. Ele falou, não, eu vou esperar ele sair primeiro, o padre. A hora que o padre saiu, ele me chamou no quarto e falou que o padre tinha abusado dele. Foi que eu fiquei em choque. Eu não estava acreditando até que ele foi lá e abaixou as calças dele e eu vi realmente que estava bem machucado”, detalhou a irmã.
O garoto relatou que, após ajudar com as caixas até por volta das 17h, o padre o convidou para ir à sua casa, ao lado da igreja, para tomar um suco, sob o pretexto de ter mais caixas para organizar. Lá, o padre teria escondido o celular do menino. Ao tentar pegá-lo, o adolescente percebeu que o aparelho do padre estava com conteúdo pornográfico.
O menino lembra-se de ter sido convidado a sentar no sofá. Após tomar o suco ou café oferecido, ele “apagou”. “Quando ele acordou, ele já estava na cama e o padre já estava abusando dele“, disse a mãe, citando o relato do filho. O pequeno só despertou completamente quando o padre lhe deu um banho. Em seguida, o religioso teria arrumado o menino, lhe dado uma cesta básica e o levado de volta para casa. A família suspeita que o adolescente possa ter sido dopado, e exames foram solicitados para verificar essa possibilidade.
Para obter provas, o garoto teve a iniciativa de conversar com o padre por mensagens no dia seguinte. Nessas conversas, o padre teria pedido para que as mensagens fossem apagadas, afirmando que “os outros adolescentes que iam lá não contavam nada para ninguém“. O padre teria se “entregado” nas mensagens, revelando detalhes do abuso. “Ele tinha gostado de subir realmente, estava gostando de subir em cima do meu filho”, relatou a mãe, chocada com as confissões. As conversas foram printadas e estão em posse da polícia, da família e do Conselho Tutelar.
Investigação, medidas e traumas
Na quarta-feira, o Conselho Tutelar acompanhou a família até o Instituto Médico Legal (IML) para que o menino realizasse o exame de corpo de delito. Segundo a mãe, o perito informou que o menino estava “bem machucado” e que havia lesões na região que sofreu o abuso e na garganta.
A família também solicitou uma medida protetiva contra o padre, já que ele teria tentado retornar à casa para buscar o garoto para mais trabalhos. No entanto, o pedido foi negado pela juíza, sob a justificativa de que ele não é parente próximo.
O padre já foi afastado da igreja, conforme confirmado por outro padre da paróquia que ligou para a família. A Polícia Civil dará continuidade às investigações, e os resultados dos exames serão encaminhados ao Ministério Público.
O impacto psicológico em no adolescente é profundo. A mãe descreve que ele está “bem abalado psicologicamente”, chora de dor, tem medo de tudo e vergonha de ir à escola.
“Tomara que a justiça seja feita dessa vez, porque é muito triste, muito triste mesmo, de verdade”, desabafou a mãe. A família clama por justiça para que o agressor pague pelo crime.
Nota à imprensa da Diocese de Lages
A Diocese de Lages divulgou uma nota à imprensa sobre o ocorrido. Leia a nota na íntegra:
NOTA À IMPRENSA
A Diocese de Lages (SC) comunica que chegaram, recentemente, à Cúria Diocesana, informações contendo acusações de natureza grave envolvendo, até então pároco da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, situada no Bairro Guarujá, em Lages (SC).
Diante da seriedade dos fatos noticiados, a Diocese, fiel aos princípios da verdade, da justiça e da caridade cristã, declara que tais acusações exigem uma averiguação responsável, prudente e rigorosamente conduzida, em consonância com as normas do Direito Canônico e, quando cabível, da legislação civil. Tal apuração visa garantir, acima de tudo, a proteção de eventuais vítimas, bem como o direito à boa fama, à presunção de inocência e à ampla defesa do sacerdote acusado.
Caso se comprove os fatos alegados a Diocese de Lages reafirma com veemência seu compromisso com a vítima e seus familiares, como acolhimento e escuta, apoio psicológico, espiritual e legal, transparência e justiça, prevenção e garantia de não repetição. Além de apoio espiritual e psicológico, a Diocese, se necessário, irá buscar formas de reparação moral e material, conforme a legislação local.
Em vista disso, foram adotadas medidas cautelares, entre as quais o afastamento temporário do padre do exercício de suas funções ministeriais na referida paróquia, bem como decreto de imposição de medida cautelar de restrição de residência. Essas medidas têm caráter preventivo e não representam, de forma alguma, um juízo antecipado sobre a culpabilidade ou inocência do sacerdote. Trata-se de um procedimento necessário para assegurar a lisura do processo investigativo canônico, bem como para evitar qualquer escândalo, perturbação ou divisão no seio da comunidade paroquial e diocesana.
A Diocese de Lages reafirma seu compromisso com a verdade, com a justiça e com a proteção dos mais vulneráveis, reiterando que acompanhará com seriedade e transparência o desenvolvimento dos fatos, sempre em colaboração com as autoridades competentes, civis e eclesiásticas.
Contamos com a oração e compreensão de todos os fiéis, e rogamos à Nossa Senhora da Saúde que interceda por nossa Igreja diocesana neste momento delicado, para que a verdade prevaleça e a justiça seja plenamente realizada.
Lages, 18 de junho de 2025.
† Dom Guilherme Antonio Werlang
Bispo Diocesano de LagesPe. David Bruno Goedert
Vigário Judicial
Fonte: Rádio Clube