Em março de 2011, o pescador Francisco Evonildo da Costa se despediu da família na cidade de Aracati – litoral do Ceará – com destino ao Estado da Bahia. Aquela foi a última vez que a esposa Mônica Soares e a filha Sanny Kelly da Costa tiveram notícias suas. A partir daí foram 10 anos de angústia, convivendo com a total falta de informação sobre o paradeiro de Francisco.
Apesar do longo tempo de ausência, Mônica Soares conta que a filha nunca desistiu do pai e reclamava constantemente pelo fato de não receber sequer uma ligação. E foi a persistência de Sanny que trouxe a esperança de volta à família, ao descobrir a existência da Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas, coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).
O perito criminal Clineu Uehara, que é responsável pela gestão do Banco Estadual de Perfis Genéticos em Santa Catarina, explica que o material biológico de Sanny foi coletado pelo órgão pericial do Rio Grande do Norte, onde reside atualmente, e catalogado no Estado do Ceará, onde a vítima foi vista pela última vez. Depois a amostra foi inserida no Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG), para ser confrontada com os materiais compartilhados por outros estados, incluindo restos mortais não identificados.
Entenda o caso
Desaparecido desde 2011, quando saiu do Ceará, o corpo de Francisco Evonildo da Costa percorreu um trajeto de aproximadamente três mil quilômetros até ser encontrado em 2015 na praia de Itaguaçu, no município catarinense de São Francisco do Sul. Na época não foi possível determinar a identidade do pescador, porém, os peritos da Polícia Científica de Joinville enviaram a amostra do material genético dele para o Setor de Genética Forense em busca de respostas.
“A partir das amostras de DNA de Francisco, colhidas e catalogadas em Santa Catarina, e dos materiais biológicos coletados de seus familiares, o sistema da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos apontou uma compatibilidade genética entre os restos mortais e a amostra da filha Sanny”, destaca Uehara.
Por meio do trabalho integrado entre as Perícias Oficiais de Santa Catarina, do Rio Grande do Norte e do Ceará, os peritos do caso confirmaram a identificação considerando o contexto histórico e as características físicas e antropológicas. No dia 18 de maio a família recebeu a notícia que, embora triste, “trouxe sossego ao coração”, como disse a viúva Mônica.
Trabalho em Santa Catarina
Clineu Uehara destaca que o Programa Conecta, da Polícia Científica de Santa Catarina, vem desenvolvendo o trabalho de identificação de pessoas desaparecidas a partir da coleta de DNA de familiares antes mesmo da Campanha Nacional. Em relação a perfis de referência direta, o que inclui os familiares de desaparecidos, o Estado ocupa a 6ª posição, com 410 perfis genéticos inseridos no Banco Nacional.
“Além de comprovar o potencial do banco de perfis genéticos na identificação de pessoas desaparecidas, o caso do pescador Francisco mostra a importância desse trabalho na vida das pessoas. Muitas outras famílias brasileiras convivem com o sofrimento causado pela falta de informações sobre um ente querido”, lamenta.
Para saber como participar do Programa Conecta e conhecer mais sobre o Banco de Perfis Genéticos, acesse aqui.
Campanha Nacional
A Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas é uma iniciativa coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública em parceria com os estados. Prestes a completar um ano, já ajudou, além de Mônica e Sanny, outras 57 famílias a identificar o paradeiro de familiares. A meta é reconhecer os mais de 26 mil restos mortais sem identificação no país.
O perfil genético da família só é retirado do banco após a identificação. Isso permite que novas buscas possam ser feitas à medida que os cadáveres e as pessoas de identidade desconhecida sejam cadastrados. Se a pessoa que desapareceu for encontrada, a família será avisada pela Delegacia ou Instituto Médico Legal.
Fonte: Secom